O que é o poder simbólico?

11/09/2013 11:30

Pierre Bourdieu nos apresenta uma análise interessante sobre o poder simbólico. Para o autor, as produções simbólicas podem ser entendidas como instrumentos de dominação. Por produção simbólica podemos compreender toda e qualquer obra cultural, intelectual, política e os discursos de cada sistema ideológico. Tais sistemas ideológicos são construídos a partir de “verdades” estabelecidas com base no status de dominação das pessoas atuantes naquele campo, e que também são socialmente reconhecidas e aceitas para proferir suas “verdades” ao restante da sociedade. Tais especialistas – intelectuais, artistas, políticos e outras autoridades – possuem o monopólio da produção ideológica considerada legítima, tanto pelos dominadores quanto pelos dominados. São instrumentos de dominação estruturantes, mas também estruturados.

“O poder simbólico é esse poder invisível, o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem” [1].

O poder simbólico é um poder exercido sem que quem o exerça saiba que o está fazendo. Por exemplo: um intelectual que escreve sobre algum tema relevante à sociedade deseja comunicar alguma coisa boa e agregadora com seu escrito.  No entanto, por ser um intelectual, as pessoas o ouvem e acreditam naquilo que diz. Ele exerce um poder simbólico sobre a sociedade, mas ele não optou explicitamente em fazê-lo.

Os sistemas simbólicos, como sistemas de comunicação e conhecimento, só podem exercer um poder estruturante (que se afirma ao ser posto em prática) porque são sistemas estruturados. Ou seja, só é possível que o intelectual tenha esse poder simbólico na sociedade porque esta desde sempre o reconheceu como comunicador autorizado da verdade.

O poder simbólico é um poder de construção da realidade que tende a estabelecer uma ordem gnosiológica: o conceito de mundo supõe o conformismo lógico, uma concepção homogênea do tempo, espaço, do número, causa; que torna possível a concordância entre as partes.

Os símbolos são instrumentos da integração social, de comunicação e conhecimento. A integração lógica é condição da integração moral. Os sistemas simbólicos cumprem sua função política de instrumentos de imposição ou legitimação da dominação, por serem instrumentos estruturados e estruturantes de conhecimento. As diferentes classes e frações de classes estão envolvidas numa luta propriamente simbólica para imporem a definição de mundo social conforme seus interesses. Ninguém está livre desta tentativa de dominação, uma vez que é inerente do ser humano tentar impor suas “verdades” às demais pessoas.

A classe dominante é o lugar de uma luta pela hierarquia dos princípios de hierarquização. Ela tem em vista impor sua dominação por meio da produção simbólica ou por intermédio dos ideólogos conservadores. A classe dominada adquire a produção simbólica produzida pelo dominador através do consumo cultural, intelectual e político que, por sua vez, é legitimado pela própria relação entre dominador e dominado. Todo produto simbólico não reconhecido pela sociedade pode ser visto como produto de resistência a essa dominação.

Os produtos simbólicos distinguem-se conforme são produzidos e apropriados pelo conjunto do grupo. Pessoas pertencentes a determinado grupo social menos abastado vai apropriar-se de um produto simbólico de forma diferente de pessoas pertencentes a um grupo social composto de pessoas ricas, que detém os mecanismos necessários para realizar tal apropriação conforme os signos com os quais foi produzido.

O poder simbólico reside nos sistemas simbólicos em forma de ato ilocutório, que se define por meio de uma relação determinada entre os que exercem o poder e os que lhe estão sujeitos. O que faz o poder das palavras e das palavras de ordem - poder de manter a ordem ou de subvertê-la - é a crença na legitimidade das palavras e daquele que as pronuncia. Uma via de mão dupla, na qual o os dois lados dependem do outro para legitimar-se ou não.

Thayla Mercurio Ramon



[1] BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. 2 ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.