Mecanismos De Redistribuição Social Numa Sociedade Capitalista

06/08/2013 10:22

Ao longo de milênios, pelo menos 80% da população mundial esteve envolvida na produção de alimentos básicos. Foram necessários séculos para melhorar as técnicas produtivas. Passamos do estágio de coleta de alimentos para o da agricultura, o que fez o homem – até então nômade – se estabelecer e formar as primeiras cidades. Formadas as cidades, foi preciso um novo meio de produção – ou novas técnicas - que gerasse alimentos excedentes para os períodos de seca, frio ou chuva prolongada. Os primeiros instrumentos desenvolvidos nesse sentido eliminaram a necessidade de tantas pessoas envolvidas na tarefa de alimentar-se. Isso deu espaço para que o homem gastasse energia com outras atividades, como o desenvolvimento da escrita, pensamento científico e filosófico e até mesmo a arte. Mas, na mesma medida, gerou a parcela da população “desnecessária” para a sociedade.

Ao mesmo tempo em que o desenvolvimento técnico na produção alimentícia levou a humanidade a uma situação de conforto, pessoas que não eram letradas e não conseguiam empregos na agricultura tornaram-se miseráveis. O ciclo passou a se repetir em cada sociedade nova que se estabelecia, e a pobreza foi gradativamente aumentando.

Hoje, em locais desenvolvidos como a América do Norte, 3% da população se dedica à agricultura e pode produzir alimentos suficientes para alimentar o restante de sua população. Além disso, mesmo os produtos manufaturados ou industrializados não precisam de grande força de trabalho, o que gera, por toda parte do mundo industrializado, a necessidade de redistribuição social.  Hoje sabemos que é mito dizer que as inovações técnicas geram empregos em outros setores.

Se a maior parte da população não é mais necessária para a produção, do que ela se mantém? Além dessa pergunta, o que irá acontecer a uma sociedade que cada vez mais se baseia numa economia de consumo? É ai que entra “o mecanismo político e administrativo de redistribuição social”. Com enorme expansão nos últimos anos, pode-se dizer que o Brasil é o país com um modelo de redistribuição social que realmente deu certo. Não se pode negar que a miséria foi extirpada do país graças a uma dezena de “bolsas financeiras” que o governo criou. Ou seja, já começou a existir um mecanismo de redistribuição social e, onde existe, “é seguro afirmar que as chances de que seja desmantelado são quase nulas”.

“Barriga cheia” não significa o fim da desigualdade econômica – significa o fim da miséria. O abismo social começa a se alargar porque grande parcela da população de países industrializados passará a viver desse tipo de auxílio simplesmente porque não existe emprego para todos. As pessoas incluídas no modelo de trabalho serão as pessoas que poderão gastar dinheiro com coisas supérfluas, e aquelas que vivem de auxílio financeiro não, porque o crescimento econômico baseado na economia de mercado – ainda que impressionante – não é um mecanismo eficaz no combate às desigualdades. E não o é porque não pode ser - tal é o modelo capitalista no qual estamos inseridos.

Além do papel social desse tipo de auxílio, ele mantém a população pobre em relativa contenção social, o que confere às pessoas abastadas certa segurança – já que o pobre não precisa do crime para se alimentar.  Mas até que ponto esse sistema funcionará? Num modelo econômico baseado no consumo, por quanto tempo será possível calar parte da sociedade com mecanismos de redistribuição social?

São perguntas interessantes para tempos históricos interessantes. A resposta, a história nos dirá.     

Thayla Mercurio Ramon 

Inspirado no texto:

HOBSBAWM, Eric. O que a história tem a dizer-nos sobre a sociedade contemporânea? In: Sobre História. São Paulo: Companhia das Letras, 1998.