Guerra Total no Século XX.
“Sem considerarmos esse poder irresistível da fotografia, do cinema e do cartaz, não se poderia compreender a amplitude, rapidez e persistência, apesar do morticínio atroz, das vastas mobilizações demandadas pelo esforço de guerra, assentes sobre três fatores-chave – a grande indústria, a rede de comunicações e a propaganda –, resultando no que foi chamado pela primeira vez de ‘guerra total’, por envolver simultaneamente o front e o cotidiano das populações civis num único e grande movimento, elétrica e mecanicamente coordenado”. (SEVCENKO,Nicolau. Orfeu Extático na Metrópole: São Paulo, sociedade e cultura nos frementes anos 20. São Paulo: Cia das Letras, 1998, p. 164).
“Temos como certo que a guerra moderna envolve todos os cidadãos e mobiliza a maioria; é travada com armamentos que exigem um desvio de toda a economia para a sua produção, e são usados em quantidades inimagináveis; produz indizível destruição e domina e transforma absolutamente a vida nos países nela envolvidos. Contudo, todos esses fenômenos pertencem apenas às guerras do século XX.” (HOBSBAWM, Eric. Era dos Extremos – O breve século XX – 1914-1991. São Paulo: Cia das Letras, 1997, p. 51).
GUERRA TOTAL. É esse novo fenômeno que caracteriza a guerra do mundo industrializado. As duas citações acima tratam de dois fenômenos que possibilitaram que a guerra entrasse nos domínios mais íntimos da sociedade: a facilidade dos meios de comunicação (cinema, rádio, fotografia e a propaganda de guerra), e a indústria. A guerra total era uma possibilidade que se deu e se concretizou com os novos meios de comunicação e com as novas tecnologias industriais, sendo ambas amplamente utilizadas no esforço de guerra.
As guerras antes da Revolução Industrial eram travadas como combates corpo-a-corpo. No máximo, eram disparadas balas de armas demoradamente preparadas para o combate, e que muitas vezes não eram usadas uma segunda vez até o final do conflito. Eram batalhas de confrontos curtos e com um baixo número de mortes, que raramente envolvia mais de uma nação. A guerra total é justamente o inverso disso: armas potentes e mortais, muitas nações envolvidas em conflitos longos e um altíssimo número de baixas, além, claro, de um enorme envolvimento da população civil.
A mobilização de toda uma sociedade, não somente pelas questões econômicas da guerra total, e o amplo envolvimento dos países e população, não se devem somente às necessidades da guerra, mas à propaganda ideológica que os novos meios de comunicação levaram até a sociedade numa velocidade incrível. Com a propaganda de guerra, um enorme sentimento nacionalista se apodera das pessoas, especialmente na Primeira Guerra Mundial, onde o encantamento tecnológico aumenta ainda mais a sensação de superioridade das nações. Isso levou as pessoas a se envolverem no esforço de guerra para cumprir um dever com a nação que as deixava felizes. Não foi preciso obrigar a população a trabalhar pelo benefício da nação em muitos lugares do mundo, especialmente durante a Primeira Guerra Mundial.
A guerra total também se caracteriza pela facilidade com que os novos armamentos conseguiam matar, agora não mais uma pessoa por tiro, mas milhares com o uso de uma única bomba. A segurança que as pessoas de diversas nações sentiam ao embarcarem para as trincheiras da Primeira Guerra, era em parte causada pela magia da tecnologia de guerra, em parte pelo sentimento de nacionalismo propagado por todos os veículos de informação da época.
Nas guerras do século XX, os fenômenos do nacionalismo e da industrialização, modificam tanto quanto envolvem o cotidiano das sociedades de países envolvidos nas guerras. Isso acontece porque bem antes de um país declarar guerra a outro, os governos já investiram fortemente em propaganda suficiente para que toda a população acredite que deve unir forças para que seu país saia vitorioso do conflito. Além, é claro, da propagação da ideia de que a “sua” nação é melhor e, consequentemente, sairá vitoriosa da guerra.
A guerra total é um fenômeno característico do mundo moderno e industrializado. Já o nacionalismo que ressurgiu remodelado nesse mesmo século, é o resultado do esforço dos governos e da utilização oportunista das mídias em prol dos interesses de cada governante. A guerra é TOTAL por envolver militares, civis e crianças num contexto onde se “respira guerra”, se “come guerra” e se trabalha pela guerra, para que sua nação seja vitoriosa no conflito. E é também guerra total porque se mata aos milhares, e o número de baixa quando ela termina, é contada aos milhões.
Thayla Mercurio Ramon