A Micro-História

05/11/2013 12:19

Micro-história é uma escolha, uma forma de análise que se foca num recorte espacial pequeno, com poucos ou somente um sujeito como objeto de pesquisa. O historiador que utiliza a micro-história como método faz uma escolha pelo pequeno, pelo individual, que se propõe compreender a história através de um viés diferente da macro-história. Seu recorte normalmente se dá em cima de um determinado episódio ou personagem.

Carlo Ginzburg foi um dos historiadores que se aventurou pela micro-história. Em sua obra “O Queijo e Os vermes”, o autor resgata a história de um herege do século XVI, numa brilhante jornada em torno de sua cosmogonia a respeito da criação do universo: “...tudo era um caos, isto é, terra, ar fogo e água juntos; e de todo aquele volume se formou uma massa, do mesmo modo como o queijo é feito do leite, e do qual surgem os vermes, e esses foram os anjos...”. O moleiro Menoccio – autor destas palavras - foi perseguido pela Inquisição por disseminar suas ideias heréticas entre a população da aldeia onde vivia. Mas o grande feito de Ginzburg é o estudo da cultura e mentalidade popular através de um único “personagem”, levantando perguntas e nos deixando a dúvida sobre o poder ideológico que a Igreja Católica se prestava a exercer dentre aquela população (de fato exercia?) – que na verdade, preservava certas crenças e ritos na obscuridade.

Natalie Zemon Davis é outra historiadora que adentra os meandros da micro-história com genialidade. A obra “O Retorno de Martin Guerre” é a aventura da autora por esta forma diferente de fazer história. Utilizando como objeto de pesquisa uma suposta “lenda” de Languedoc, a autora investiga o caso de Martin Guerre, um camponês rico que abandona sua família e propriedades. Permanecendo desaparecido por muitos anos, ele retorna, mas levanta suspeita entre tios e primos com interesses em seus bens. Uma corte é instaurada para investigar a suspeita de que ele era um impostor, o que acaba confirmado com o retorno do verdadeiro Martin Guerre, com consequências também para a esposa do camponês. A obra - da mesma forma que “O Queijo e os Vermes” de Ginzburg – trás à tona uma série pormenores presentes no contexto no qual o episódio de dá.

A micro-história é uma forma muito agradável de levar a “história” até as pessoas comuns. É certamente apaixonante para o leitor leigo, que adentra a narrativa histórica como se fosse um romance, chegando até mesmo a torcer pelos “personagens” presentes na obra. Incompleta, porque específica, mas essencial para compreender alguns contextos sociais e culturais das pessoas comuns. É uma forma válida de análise e, certamente, necessária.

 

Thayla Mercurio Ramon