A Corrida Pelo Ouro Nas Minas Gerais e Seus Impactos Ambientais

11/06/2013 12:10

A Corrida Pelo Ouro Nas Minas Gerais e Seus Impactos Ambientais

A busca e exploração do ouro no Brasil colonial geraram muitas mudanças na colônia portuguesa. O Brasil se transformou de centro agrícola monocultor (cana-de-açúcar) para fonte de grande riqueza da coroa portuguesa e de muitos aventureiros (ouro e diamantes).

Warren Dean[1] caracterizou as descobertas de ouro e diamante no Brasil do século XVIII como “as mais importantes ocorridas no Novo Mundo Colonial”. Os números oficiais mostram isso com clareza: 1 milhão de quilos de ouro passaram pelos registros da coroa e 2,4 milhões de quilates de diamantes foram retirados de terras coloniais. Talvez uma outra quantia parecida com isso tenha sido levada da colônia sem passar pela fiscalização real.

Apesar disso, toda a riqueza explorada na colônia foi levada para a Europa, de forma que pouco ou quase nada ficou no Brasil. Mas todo o mercado em torno da exploração aurífera em terras coloniais cresceu. A agricultura aumentou consideravelmente para atender às demandas do crescimento populacional (aventureiros e portugueses que lucraram muito com a exploração do ouro). Também aumentou a vigilância governamental e a extensão de florestas destruídas.

Na agricultura, era praticada a derrubada e queimada de mata virgem para preparar a terra para o plantio. Quando - num curso de poucos anos dependendo do produto cultivado - a terra se tornava “cansada”, o agricultor a abandonava e derrubava outra faixa de mata virgem para reiniciar o seu trabalho. Tendo isso em vista, pode-se imaginar que o aumento populacional causado pela exploração aurífera, gerou também aumento na produção de alimentos que, por consequência, derrubou muitos quilômetros de mata para este propósito.

Na verdade, o grande impacto da exploração do ouro e diamante para o Brasil foi visto na natureza. Grandes extensões de florestas foram derrubadas para dar lugar à agricultura necessária para alimentar a população em crescimento. Leitos de rios e riachos foram desviados para a lavagem da terra que poderia ou não conter pedras de ouro. A garimpagem, muitas vezes praticada de forma ilegal, se caracterizou por ser uma forma de exploração concentrada em um único recurso – não renovável e abiótico – que tendia a aumentar o uso depreciativo dos recursos naturais.

A extração do ouro era feita primeiramente por lavagem do próprio cascalho; com o tempo, o ouro facilmente encontrado nos leitos dos riachos ou rios se tornou mais raro e passou a ser encontrado debaixo da terra. Para isso, um grande número de riachos foi desviado para atender à demanda pela água necessária para lavar a terra lamacenta e separá-la do ouro.  Muitos riachos deixaram de existir ao longo da exploração aurífera e outro número igualmente grande se tornou lamacento e improdutivo à vida. Era sabido pelos exploradores que uma grande montanha de ouro não valia nada sem a água necessária para lavá-lo.

Essa prática também causou uma devastação imensa nas áreas revolvidas em busca de ouro. O botânico Auguste de Saint-Hilaire, no século XIX, relatou que “por todos os lados, tínhamos sob os olhos os vestígios aflitivos das lavagens, vastas extensões de terra revolvida e montes de cascalho”. Outro botânico, também impressionado com a devastação causada na Serra dos Cocais (próximo a Ouro Preto) disse que estava “numa região escalvada e deserta, cujo terreno está todo minado pelas escavações em busca do ouro”. Esses lugares ficaram cobertos por mato e nunca mais se tornaram férteis para o ressurgimento da floresta que antes habitava o local.

Além disso, foi utilizado mercúrio em larga escala para separar o ouro dos metais indesejados. Spix e Martius calcularam que, para o período entre 1753 e 1812, as Casas de Fundição de Minas Gerais compraram anualmente da Europa sessenta arrobas de cloreto de mercúrio. "No rio Piranga lava-se ouro tão fino, que às vezes ele forma uma película sobrenadando, e, por isso, só pode ser separado pela amalgamação. Nessa operação, segundo o costume do país, expõe-se a amálgama num cadinho aberto ao fogo, e colhe-se o mercúrio volatilizado numa folha de bananeira enrolada em forma de cartucho"[2].

A poluição gerada pela utilização de mercúrio não tem sido estudada, mas sabe-se que esse metal polui e contamina uma grande porção de água com uma pequena quantidade de metal. Warren Dean calcula que cerca de cem toneladas de mercúrio podem ter sido utilizadas para separar o ouro dos metais indesejados ao longo da exploração aurífera. Resta-nos perguntar qual foi o impacto que isso causou na natureza!

Thayla Mercurio Ramon



[1] DEAN, Warren. A Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica Brasileira. São Paulo: Cia. Das Letras, 2007 [1995].

[2] https://www.minasdehistoria.blog.br/wp-content/arquivos/2008/02/mineracao-agricultura-e-degradacao-ambiental-em-minas-gerais-nos-seculos-xviii-e-xix.pdf


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